sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Só os loucos é que se masturbam? Este é o “último tabu sexual” | P3

Só os loucos é que se masturbam? Este é o “último tabu sexual” | P3


No cinema, só se masturbam adultos desenquadrados, jovens imaturos ou loucos (ou loucas). A antropóloga Rita Alcaire defende uma valorização positiva desta prática "natural e universal"

Já chegámos à conclusão que o sexo está a ficar democrático e que a religião não é sinónimo de inibição. O que não sabíamos é que a masturbação pode ser o "último tabu sexual", o único que parece ainda não ter sido derrubado.

A conclusão é da antropóloga Rita Alcaire, que, na sua tese de mestrado em Psiquiatria Cultural, na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, estudou as representações da masturbação na televisão e no cinema "mainstream". O estudo, inédito em Portugal, dá conta que o tema, apesar de estar cada vez mais presente na indústria audiovisual, "não é representado de uma maneira positiva".

No cinema "ninguém se masturba porque quer", refere, em entrevista ao P3, a investigadora. As personagens estão quase sempre associadas a estereótipos negativos e assim promovem a condenação de uma prática "natural e universal".

O desenquadrado, o imaturo e a louca

Rita Alcaire detectou três grandes padrões no cinema: "o adulto que se masturba porque tem problemas" e procura prazer para alcançar "um lugar no mundo", comportamento cujo exemplo paradigmático é Lester Burnham em "Beleza Americana"; o jovem, que por "não ter grande experiência sexual", recorre a esta prática (Quem não se lembra do Jim de "American Pie"?) ; e o louco, que pratica uma sexualidade perversa associada a um "pendor criminoso e assasino", como é o caso de Carl Stargher em "A Cela".

É também nesta última categoria que se costumam enquadrar as poucas mulheres que se masturbam. "Pelos vistos, a masturbação feminina é perigosa. Elas nunca estão bem, aparecem associadas à loucura", diz Rita, referindo as "masturbadoras femininas" de filmes como "Jovem Procura Companheira", "Um Olhar Obsessivo" e "Mulholland Drive". "Nas três narrativas, estas mulheres surgem como incapazes de formar relações com outras pessoas de forma profunda" e acabam por querer matar os seus amantes, escreve a investigadora na sua tese.

A masturbação deveria ser "ecléctica"

Dos 13 filmes analisados (ver coluna à esquerda), três são portugueses. A escolha recaiu em "Aquele Querido Mês de Agosto", "O Delfim" e "Call Girl", que apresenta mais uma "mulher manipuladora". Rita reconhece que foi "difícil" encontrar exemplos nacionais.

"Em Portugal, a masturbação está ainda menos representada e de forma menos explícita", concluiu a investigadora, que acredita que o "aumento da produção de telefilmes" generalize e normalize o tema.

"Daqui a uns anos vai mudar", prevê a antropóloga, dando como exemplo as relações homossexuais, cada vez mais presentes e encaradas de uma forma natural na indústria audiovisual. Aliás, o "Cisne Negro", curiosamente o primeiro filme que Rita viu após a entrega da tese, já a retrata de uma forma diferente.

E como será que num mundo ideal, sem tabus ou preconceitos, a masturbação deveria ser apresentada? Como é na realidade, afirma Rita. "Não fazer disso uma bandeira." Encará-la como uma prática "aceitável", "associada a pessoas diferentes", a mulheres e homens comuns. Ecléctica? "Sim. Uma masturbação ecléctica."

Texto: Amanda Ribeiro

3 Desejosos(as) comentaram:

DESIRE disse...

Ora aqui está um estudo que me deixou a pensar!
Beijos prometidos

Oana Gomez disse...

Desire,

este estudo é deveras interessante. Afinal o que parece ser tão linear para alguns, é ainda um tremendo obstáculo para outros.
Falsa moralidade? Será?
Vergonha?
Para ser objecto de estudo é porque realmente ainda é um assunto controverso...

Beijos prazenteiros

Anónimo disse...

Eu adoro masturbar-me... será que sou maluco? Mas o que adoro mais é ser masturbado por uma mulher...isso sim, é super delicioso.

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